quinta-feira, abril 12, 2018

O amigo português da psiquiatria punitiva soviética

foto @themoscowtimes.com
O conhecido psiquiatra e neuropatologista português, socialista António Fernandes da Fonseca (1921-2014), se ofereceu, em 1977, ao serviço das autoridades da União Soviética. Pretendendo provar, que os dissidentes soviéticos, vítimas de psiquiatria punitiva não eram “vítimas inocentes”.
Prof. António Fernandes da Fonseca
Mas nem todos os “amigos da URSS” eram obrigatoriamente pagos, por vezes as pessoas pretendiam servir a ditadura soviética por razões ideológicas. Um dos casos é do psiquiatra e neuropatologista português, deputado do PS, Professor António Fernandes da Fonseca. No último dia da sua visita à URSS, em 1977, o Professor informou o jornalista e representante do Comité Soviético da Paz (estrutura habitualmente usada pelo KGB), Yuri Zhukov, sobre os potenciais “perigos” do VI Congresso Mundial de Psiquiatria (Honolulu – Havaí, 28/8 – 3/9 de 1977), onde os “ativistas anti-soviéticos americanos” pretendiam “organizar uma campanha anti-soviética feroz”, baseada nas “afirmações caluniosas” que URSS usava as clínicas psiquiátricas para o internamento compulsivo dos dissidentes.
O dissidente ucraniano Leonid Plyushch (1939-2015)
Prof. Fonseca pretendia receber, da parte soviética, os dados relativos aos casos dos dissidentes conhecidos, que ele pretendia compartilhar com “os psiquiatras proeminentes dos outros países da língua oficial portuguesa”. Fernandes da Fonseca estava decidido provar a “absurdidade das acusações americanas”, por isso queria ver “o diagnóstico e os dados do tratamento” dos dissidentes, casos do ucraniano Leonid Plyushch ou russo Vladimir Bukovsky, entre outros, para provar que eles não são “vítimas inocentes”.
Vladimir Bukovsky, após a sua deportação da URSS, em Cambridge, Inglaterra (1978)
Em Portugal, os médicos que colaboravam com PIDE-DGS foram ostracizados pela classe após 25 de abril. Aqui temos um caso do médico português que ele próprio procurou os contatos com uma ditadura para oferecer os seus serviços, tentando justificar os atropelos da lei e as torturas terríveis, infringidas às pessoas cuja única culpa era o delito de opinião. O psiquiatra estava disposto a divulgar os dados pessoais dos prisioneiros de consciência, sem reparar na falta gritante da ética desta intenção e não se importar com a violação clara do Juramento de Hipócrates do caso. Após a queda do Murro de Berlim, António Fernandes da Fonseca nunca pediu desculpa às vítimas do regime soviético. Dr. Fonseca faleceu em 16 de dezembro de 2014 sem nunca aproveitar a oportunidade de pedir as desculpas públicas ou mesmo privadas pela sua colaboração com o regime opressivo soviético no encobrimento de crimes da ditadura comunista…

Fonte de citações:
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Ler mais: Vladimir Bukovsky, “Processo de Moscovo”/“Jugement à Moscou”: em russo; em francês (extrato);

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